terça-feira, abril 01, 2008

BABIELA
"Babiela, amor tão profundo. Deixei tudo por ela. Amor tão profundo, Babiela."



“Foi o que pensei, e era ainda mais bonito o que pensei, no momento em que olhava Babiela dormindo. Pensei na paz que reinava durante aquele ínfimo instante-olhar. Aquele era o período da duração do meu sorriso...”


1º Assunto: O tempo perdido.


Essa é mais uma daquelas histórias que surgem do improvável, do comum mesclado com o incrível. Mas não é nada fácil de se contar, por isso, para se chegar a Babiela é preciso ir bem antes, é preciso começar por Hugo.
Hugo Wagner era um garoto que se diria comum, análogo a tantos outros em uma multidão de meninos. Estudava muito, brincava tanto quanto com seus amigos, que eram poucos. Surgiam aqueles romances impossíveis na cabeça do pobre menino, que não passavam de contos, os quais mudaria a cada estação a personagem arrebatadora.
Ah, o primeiro beijo! Esse é o sonho de toda menina, mas por que não de todo garoto também? Hugo queria que seu primeiro beijo fosse roçado num lábio especial e completamente digno de sua virgindade infantil. Mas não foi o que aconteceu: viu-se na euforia de ver seus amigos todos “podres”, com “a primeira que aparecesse pela frente”. Queria também. Queria, na verdade, apenas sentir tão logo o que desejava há muito, mesmo não sendo da forma que lograra em sonhos.
Foi o melhor amigo que o apresentou àquela garota cor de chocolate ao leite, nem negra demais, nem morena-clara; os olhos eram ébanos penetrantes, o sorriso mostrava que já era experiente o suficiente para deixá-lo em êxtase – era um sorriso maroto – dentes brancos brilhantes; seu corpo, esbelto; seus cabelos eram também negros, com ondulações de pequenos intervalos, alguns fios mais claros na frente da face e um corte banal à altura dos ombros. Contudo, o nome dela não o interessou: deixou-se levar pelo fogo da vontade e não se preocupou em identificar a bastarda.
– Merda! Estraguei meu primeiro beijo! – repetia ele, incessantemente, em seu pensamento, enquanto a beijava, o menino no auge de seus 14 anos.
Aconteceu na casa dela: uma casa comum, na entrada um portão prata, ondulado, que incluía uma porta do lado esquerdo de quem entra – uma entrada-garagem – e mais à frente, uma pequena sala, um corredor com um banheiro, logo, uma cozinha, dois quartos do lado direito, um do esquerdo, e mais um banheiro, nos fundos uma porta que lavava a um quintal pequeníssimo; porém, com vizinhos que não perturbavam tanto, a não ser pelas observações caladas e reprovativas, dum silêncio angustiante. Hugo ficou com ela, e o amigo, com outra, com a amiga dela. Ninguém jamais saberia o que se passava na mente do garoto, independentemente do que seus olhos queriam falar. Da sua boca só sairiam palavras como: “Sim, foi ótimo!”. Ainda que não sendo. Ainda que se preocupando em carregar o sofrimento de ter errado justamente na primeira vez, porque, na verdade, ele não estava preparado para iniciar com qualquer uma; tinha de ser uma que fizesse seu coração bater como se fosse sair pela boca, um sentimento verdadeiramente eufórico – e bom.

2º Assunto: Os momentos de sonho.

Mas o tempo passava. No final deste ano “podre”, aconteceu algo extraordinário, algo que jamais pensaria que fosse acontecer com ele. Apaixonou-se de verdade, agora não seria mais nenhum conto de estação, todavia, uma paixão profunda, com apenas uma personagem arrebatadora.
Não pensou que fosse acontecer com ele, porque era virtual. Seria possível um amor surgir virtualmente? Na Era que começava, a da revolução virtual, sim, isso foi – e vem sendo – possível. Vejo, afinal, que há tantas histórias de um grande amor surgido assim. Acabara de tornar-se febre mundial o fenômeno MSN: aquele aplicativo de mensagens instantâneas. Foi por este meio que Hugo conheceu uma mocinha. Era uma garota explosiva, acesa, ciumenta, mas ele gostava dela assim.
Ele só ficava online para poder sentir a presença dela através das palavras digitadas, da imagem de exibição, da webcam, dos emotions, das chamadas de atenção quando demorava responder, das músicas compartilhadas. E até algumas músicas se tornavam temas da relação, como em uma novela de televisão; um trecho marcante: “Você tem carta branca nesse meu coração / eu amo você / Estou de corpo e alma entregue em suas mãos / quero dizer que ninguém no mundo vai te amar assim, / assim, é tanto amor que esqueço até de mim...”
De fato, só ficava online para conversar com ela, seus amigos já não o interessavam tanto assim, ela era a causa e a razão de conectar-se à Internet. Estava ficando doentio, mas feliz.
Hugo ganhou um celular, telefone de ampla cobertura móvel, tela coloria, toques polifônicos, muito moderno para a época – não era todo mundo que podia ter um assim. Seu amor ligava todos os dias. Não custa repetir, todos os dias, lá de onde morava. E onde morava? Em New Jersey, Estados Unidos. Veja só. Mas a garota era brasileira, dois anos a menos que ele, natural de Minas Gerais, embora com a família em situação ilegal naquele país. Tudo era tão difícil para cabecinhas tão infantis.
Fascinante também era escutar aquele toque do celular selecionado exclusivamente para ela, para quando ligasse. Às vezes ele escutava o toque do nada, sem nem haver ligação, só de ansiedade; e outras tantas, escutava repetidas vezes o mesmo toque para imaginá-la bem perto ou tentar se transportar para perto dela.
Para muitas pessoas a situação seria uma loucura, uma anormalidade, por isso mantinha em segredo o que sentia. É infinitamente difícil amar em segredo, rir em segredo, chorar em segredo; ser a pessoa mais feliz do mundo, em segredo; ou então, precisar de um ombro amigo – um apoio seguro – nos momentos mais difíceis, de dor e sofrimento, e não o ter porque se está em segredo. Não poder contar a ninguém, porque ninguém o entenderia, fazia com que ele sentisse uma morte a cada sorriso, e com que seu riso sorrisse amargo, quase sem cor, quase em sépia.
Quando não podia “teclar” de casa, ia a uma lan house próxima, fosse como fosse, não interessava o que o ocupava, deixava para depois, pois além de receber a ligação diária, ele precisava – precisava – passar mais tempo com ela. Era uma presença virtual, porém, de todo modo, era uma presença necessária.
Faziam planos os dois: tentariam se encontrar não importasse como, nem a distância, nem o passaporte, o transporte, o dinheiro, o green-card, ou a situação ilegal naquele país. Sim, tentariam. Ela sabia de tudo o que ele gostava, de suas manias, seus exageros, e era recíproco. Já havia até imprimido a foto de Hugo e mostrado para todas as amigas e amigos, para toda a escola. Era o que ela dizia. Era a verdade. E pareciam demasiadamente felizes e intocáveis.

3º Assunto: O trauma.

Foi fulminante a paixão que se desenvolveu entre eles. É algo que não sei nem descrever. Mas um dia, um horrível dia, tudo desandou, porque aquilo que é inevitável sempre acontece. Ela disse que era melhor tudo acabar, pois já não acreditava mais no encontro, passou a pensar que demoraria demais até que pudesse ocorrer. Apesar disso, Hugo não se dava por vencido. Como tudo acabaria assim, de uma hora para outra? Precisava de respostas, esse era um motivo muito vago e para que um namoro tão intenso e bonito terminasse de repente. E não deixou que acabasse assim.
Mas se passou, então, um mês quase sem ligações, cheio de desencontros (MSN offline), e-mails não respondidos. Ele perdia tempo fazendo coisas que ela parecia nem notar, até que esta definiu o fim: disse que namorava não só com Hugo, mas com outro também, um de São Paulo. Daí não mais poderia ficar com ele, porque amava mais o outro infame: o paulistano. Isso foi uma “faca em seu coraçãozinho”, um jovem coração ludibriado por uma paixão fulminante, que se findou por culpa de uma traição virtual. Estabeleceu-se, assim, um trauma. Foi triste, demasiadamente triste, pois era sua primeira namorada, já seria então a segunda vez que errava em sua “primeira vez” – agora, o primeiro namoro.
Depois, a vida de Hugo Wagner mudou, a família mudou de cidade, mudaram-se os amigos, mudaram-se os planos, e passou a conhecer novas pessoas. Nessa fase de transição tentava acostumar-se à nova cidade e esquecer-se de tudo que sofrera. Tentou deixar tudo para trás, assim como a cidade, os amigos e tanta coisa que lá havia construído.

4º Assunto: O banho frio.

Ele nunca conseguia explodir seus sentimentos, não chorava como tantas pessoas choram. Sentia-se seco por dentro. Seu choro era um choro calado, inibido, apenas de olhos marejados. Mas no dia em que seu coração estressou, quando prometeu (prometeu!) a si que nunca mais a procuraria, o choro ficou insurgente, chorou tudo que podia, até que os olhos incharam. Chorou debaixo de um banho frio – foi o banho mais triste e lindo que tomara. Sua mente já não pensava em mais nada, só sentia escorrer dos olhos as lágrimas que se juntavam às gotas d’água do chuveiro. Foi um banho em tons de cinza, nas cores de seu amor cremando-se, decidindo definitivamente que ali seria o fim.
A partir daí viu sua vida como um filme, lembrou de tudo que já teve e pensou em tudo que poderia ter: esquecê-la com outros amores, namorar outras vezes (mas pessoalmente; o virtual, como já dito, fez-se trauma), viver novamente. De relance pensou que assim seria melhor, pois daria espaço para um recomeço.
Sim, a vida nos revela surpresas a cada instante; ela não pára, e às vezes nos obriga a arriscar uma nova aventura. Mas aprenda uma coisa: jamais prometa algo que não possa cumprir.
Babiela não soube cuidar de Hugo, e Hugo não soube cumprir sua promessa. Você percebe, então, que a história está terminando e Babiela só é descoberta agora. Mas, afinal, importaria mais conhecê-lo – e entendê-lo – pois, no final, o dono do verdadeiro amor era ele, e não ela.
Hugo amava tanto Babiela que desistiu do que prometera a si e, quando sonhava, transportava-se para o quarto dela e a olhava a noite inteira enquanto dormia, porque depois daquele banho passou a protegê-la contra qualquer coisa, inclusive dos pesadelos, uma vez que era um anjo.
Naquela vez, naquele banho, deitou-se no chão molhado e guardaria Babiela para sempre, durante toda a vida, a partir do momento em que decidiu que seu recomeço seria uma fenda no pulso, retalhada de amor; e as lágrimas, e o sangue, juntaram-se às gotas d’água do chuveiro. Hugo tornou-se, assim, seu anjo da guarda.


por Junior Magrafil (finalizado em 22-01-2008)

terça-feira, outubro 09, 2007

CONTO DA MADRUGADA



Ele não sabia porquê dormia naquela madrugada, mas viu que era estranho, e, de repente, abriu os olhos. Ainda faltavam duas horas pro dia chegar e dizer: "Estou aqui!" Também não entendia porquê tanto silêncio, já que o tempo dele era aquele. Era o único tempo que sobrava pra ele.
O costume da insônia o fez banalizar-se ainda mais ao constatar que seu frágil sono era mais um sinal de derrota, porque lhe tomaram seu tempo. Ele odiava dormir e a madrugada era o único momento que havia tomado para si - como se fosse seu - pois nada mais lhe era de direito.
Assim, o todos-contra-um foi imbatível, e do seu tempo fez-se escambo com um falso e frágil sono, sem ter havido qualquer contrato social. Mais um momento imposto e ele cansava-se mais da palavra "imposição".
Queria rasgá-la do dicionário, literalmente arrançá-la e atear fogo pra esquecer que ela existia. Então, o fez. As brasas queimavam tão rápido quanto seu sono esvaía-se, a toda madrugada.
Era um fechar de olhos teatral; um rolar na cama (de um lado para outro) infernal, angustiante; dor nas pernas; imobilidade nos braços - às vezes - levantar; sentar; andar; olhar ao redor e ver as figuras horrendas da noite (que eram amigas dele, pois conviviam e sabiam que o que ele fazia era apenas tentar encontrar o seu tempo, o seu solitário momento).
Sentia saudade delas. A madrugada já não era a mesma depois da "lavagem-cerebral" que aquela palavra tentou fazer.
Seu sonho era encontrar um pico-de-montanha, em que, de lá, pudesse observar sozinho - já que sempre foi sozinho na vida - o que as pessoas faziam (cada uma) a vida delas, elas.
Antes não fazia isso: importar-se com a vida alheia era rústico, banal, ridículo; mas cansou-se do idealismo utópico da existência de uma sociedade feliz, que queria todos felizes, sem importar a quem, sem importar o que faziam.
Porque isso nunca existiu! Em seus dias seria impossível e, portanto, não havia vem previsão de dar certo.
As pessoas são simplemente idiotas, e sentem prazer em dar falso sono àqueles que não querem dormir, que não querem sonhar com contos-de-fadas de terror, que não querem se ludibriar com as falsas expectativas cotidianas. Que querem apenas um tempo pra si, pra fugir de tanto teatro.

terça-feira, abril 24, 2007

O livro sem capa
(29-01-2007)

Peguei um caderno e comecei a escrever. Nem título botei. Não tive tempo, não tive tempo! Minha mão não parava e o pensamento que em mim surgia não me esperava logo pensar num título apropriado.

Parecia que a ponta da caneta corria, alucinada, e fluíam tão facilmente palavras bonitas, às vezes de lamento, às vezes de dor também.

E era compulsivo escrever. Era preciso. E alguns versos me davam medo. Medo! Irei eu, escrever um livro sem capa, um livro sem título, um livro sem fim? Irei eu, escolher algum dia um belo nome para ele, ou deixarei simplesmente que as palavras escolham sozinhas?

Acho que depois de tantas palavras corridas e uma capa ainda em branco, ou melhor, uma “não-capa”, vou dar um tempo para meu coração cantar. Afinal, é relaxante inventar, recriar uma linda canção, emotiva, mesmo que seja sobre uma triste vida, mas que, incrivelmente, seja capaz de incitar à vontade de viver.

Meu livro não tem capa, não tem cores, apenas uma aquarela que, no máximo, é a variação de sépia entre o preto-e-branco e o colorido. No entanto, tem sentimentos, tem ações (boas ou ruins, mas tem). Pensando bem, acho que é o livro de minha vida, tão irreparável e contida vida.

Um dia, um dia qualquer, hoje, amanhã, ou quase nunca, não sei...um dia talvez eu decida o seu nome, mas por enquanto; enquanto há tantas indecisões e versos sem rimar, e sem uma construção particular, hei de manter-me em sigilo, em vigilância – mesmo com ânsia – pois há muitos grilos cantando e rindo nos verdes da vida. Socorro! Socorro! Meu livro não tem capa (nem nome)! Como o venderei?...rsrsrs

sábado, fevereiro 10, 2007

CRÔNICA: Deus Oprimido e a Barbárie

Antigamente aproveitavam-se do pouco conhecimento científico das pessoas e ensinava-se um "Deus Castigador" (ou um "Deus Opressor", vou assim dizer): Deus que obrigava as pessoas a obedecê-lo, caso contrário, sofreriam agruras e intermináveis conseqüências. Mas a questão crucial da religião não é a paz? A harmonia entre os irmãos, que são todos de "única oridem"? Detalhes colocavam medo na população dos idos. Falo isso pelos fatos históricos. Entretanto, hoje em dia, passa-se a observar o contrário: um "Deus Oprimido". As pessoas já não tem mais medo, pois já não temem mais a Deus, nem à "Morte". Nem pensam nas conseqüências de suas ações. Não estou dizendo que o certo seria temermos ou não a Deus, pois não estou proclamando religiosidade, apenas afirmo que o respeito a algo maior está desaparecendo, como poeira ao vento que esvaira-se. A pouco, pudemos observar em diversos meios de comunicação mais um exemplo disto, no Brasil de meu Deus: A barbárie cometida contra o garotinho João Hélio, de apenas 6 anos. A violência é o caos da sociedade (ainda pior: sem medo de punição). Três homens armados, dentre eles um menor, 17, roubaram um carro no bairro Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio de Janeiro, no dia 07 do mês em curso, por volta das 21h30. Se fosse apenas mais um roubo de um carro não chamaria tanta atenção, afinal somos bombardeados a todo instante com notícias do tipo: "Roubo de carro na avenida...". Acabamos nos acostumando ou, no mínimo, deixamos a notícia rolar sem dar muita atenção. O fato é que a inocente criança morreu. Entristeço-me profundamente a cada vez que me lembro, mas não há volta. Morreu. Estes três bandidos, na euforia de levar o carro, não sei se perceberam ou não o garotinho enganchado no cinto de segurança. Saíram em alta velocidade. Tudo indica que perceberam, pois diversas pessoas gritavam e acenavam indicando que havia alguém dependurado, sendo arrastado durante todo o sofrido percurso de 7km, por quatro bairros da Zona Norte. 15 minutos: esse foi o tempo em que João Hélio foi arrastado, e só não durou mais porque os bandidos entraram em uma rua sem saída e dalí fugiram a pé, deixando-o largado, ainda preso pelo cinto de segurança sem a mínima assistência. Crime absurdo! Absurdo! Isso é, de fato, uma barbárie. Há muitas pessoas perdendo a noção da realidade, a noção da vida. Esquecendo-se de que precisamos uns dos outros. Destruir os outros é destruir a si mesmo, e destruir a vida de uma criança é ainda pior, é destruir a alma. Neste caso, em especial, significou destruir a esperança de uma família inteira. Ao menos a empatia ainda existe, e as tantas pessoas que a possuem, como eu, comoveram-se demais, e comovem-se, ao ver como terminou essa lamentável história da vida real. Será que estes bandidos sentiram suas almas destruídas? Duvido. E isso me leva a pensar em mais uma situação: a da maioridade penal. É uma discussão muito séria. Nossos jovens, a quem ainda depositamos a esperança de um futuro melhor, estão a cada momento oprimindo a proposta de paz e amor que Deus ensinou. Estão impondo as vontades humanas (por que não dizer animais - ou animalescas?), a Ele. Imponto dinheiro no lugar da liberdade, medo no lugar da paz, egoísmo no lugar da solidariedade. Será que a maioridade penal está ineficaz? Será que deve ser diminuída? Afinal, em nossos dias, já se aprende desde muito cedo a roubar e a matar. Sim, os jovens estão ficando cada dia mais insanos. A 'Barbárie nossa de cada dia", que presenciamos a todo instante que passa, é o que resulta em nosso "Deus Oprimido".

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Conto: Infância Perdida

Conto: Infância Perdida


O Tempo. Ele não tem tempo de esperar por ninguém, ele não olha pra trás, porque corre tão intensamente que se esquece de que há momentos bons pra serem lembrados. Há, por isso, razão de olharmos de vez em quando pra trás. Não pra nos arrependermos de algo que não fizemos ou quei fizemos de uma forma que não deveria ser. O Tempo é insensível: ele às vezes não nos oferece escolhas (em diversas situações cotidianas), mas quando oferece, dá apenas uma chance de pensar, de decidir. "É agora ou nunca!" Daí porquê erramos tantas vezes. Somos pegados de surpresa, não podemos calcular nada. Nossa vida geralmente gira em torno desse insensível elemento. O Tempo não tem memória, porque se ocupa com tanta coisa, já que vê tudo numa tão alucinante velocidade sagüínea, que sofre "amnésia". A infância é o melhor exemplo de uma fase da vida em que o Tempo esquece-se, quase que completamente. Ele ainda era pequenino quando entrou na escola, conheceu amiguinhos, partilhou momentos, dividiu o lanche, brincou de esconde-esconde, foi o bobo (ou pato) a pegar a bola, riu, chorou, caiu e levantou, e conheceu novos amigos e novas situações. Mas por que ele não se lembrava de nada disso? E nem de um velho amigo de meninice que veio um dia de contra sua corrida, dizendo: nós brincávamos de "Tempo é o cara mais alegre do mundo"? Ele jogou pequenos palitos (daqueles de "pega-varetas") pro Tempo pegar. Daí viu que o velho amigo tinha carinho por ele, e se emocionaram...E a memória voltou: a amnésia perdeu para a lembrança...Foi preciso que alguém importante cruzasse o caminho do Tempo, fazendo-o parar de correr pra que ele pensasse um pouco mais sobre a vida e olhasse um pouco pra trás, pra lembrar do quanto sua vida foi incrível, e de que seu erros serviram para que ele chegasse onde chegou: mais à frente. Serviram pra que ele aprendesse. A infância perdida do Tempo, de repente foi encontrada. Bastou a interferência positiva de um velho amigo. Bastou um momento epifânico.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A donzela que viu melar o luar

A poesia é algo tão belo e original! Mas naum acho que tudo possa “virar” poesia. Veja uma pequenina história verídica:
Dia 08 de setembro de 2006, numa sexta-feira, exatamente esse dia, eu fui, como de costume, mais uma vez ao meu trabalho no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Certo, fazia meu trabalho tranqüilo, catalogando os livros da biblioteca (passava as informações dos livros para o programa no computador). Daí abro um livro, já não sei mais qual é esse livro, e encontro um papelzinho escrito, exatamente assim, sem tirar ou botar letra alguma:

Sra donzela
abra a janela
Contemple o luar
Vá contar nos dedos
Contadinho os peidos
Que eu vou soltar
Sai peido sizudo
Peido carrancudo
Sai peido calado
Desses eu não gosto
Porque sai com bosta
Deixa o cu melado.

Isso aí rima, mas...será que é poesia? Nhaa...vai da opinião de cada um né! Na minha não – foi assim que pensei na hora que li. Daí levei pra casa e comecei a analisar: o textículo anônimo começa com uma bela idéia que instiga o amor, a beleza, a surpresa. Logo depois, ao meio, a partir do quarto verso, começa a decair, instigando o erotismo e vulgaridade, com palavras como: “peitos” (em vez de “seios”, numa linguagem mais culta), e “peido”. Em seguida, no final, decai ainda mais na vulgaridade, com palavras como; “bosta” e “cu”. Criando uma atmosfera sinestésica (ou seja, com a figura de linguagem Sinestesia...rs..), em que sentimos o odor nauseante da “bosta” e somos capazes ateh de ver ela saindo de seu “lugar de origem”...rs.
Se vc não teve essa percepção de sinestesia, é caso à parte, porque falei de mim, eu senti.
Então conclui que, mesmo uma mente insana como essa, conseguiu criar por acaso, creio eu, um “poema” rimado, com um decaimento de valores organizado (que para certas pessoas é o contrário, o valor até vai aumentando), e alta força de sinestesia. Me fazendo perceber que a poesia depende dos dois lados: de quem escreve e de quem lê. Sendo esse último até, de certa forma, mais precioso, pois depende dele o sentido maior da poesia.
Esta pessoa que criou o texto, anonimamente, que chamo de “A donzela que viu melar o luar”, pode até tê-lo feito apenas por distração ou mulecagem, mas coube a mim fazer uma análise e procurar enxergar o sentido daquilo que estava escrito. Na vida temos que ser analistas: não podemos dizer simplesmente que algo é errado ou certo, que algo é melhor ou não presta. Temos que ter um senso crítico para analisar as coisas antes de dizermos se algo “é ou não poesia”.

Cada instante que passa entre dois mundos é o meu silêncio

Meu blog é algo especial pra mim, pq eh meu diário pessoal. Aliás, nem sei se posso chamá-lo mexmo de diário e, ainda mais, pessoal. É, talvez pessoal sim, pois quem escreve sou eu, mas non é provado – isso não! Não é diário, já que non escrevo todos os dias, mas essa era a intenção. Não escrevo diariamente talvez por uma falta de inspiração, talvez por acontecimentos que axei insignificantes. Nossa! Achar algo insignificante é tão...insignificante! Eu nao devia subestimar ou desvalorizar algo, mas eu tbm erro – e muito.
As vezes tbm nem escrevo pq non tenhu mto tempo vago pra mexer na net. Daí escrevo com papel e caneta, ou no tempo vago em meu trabalho, ou enquanto meus ermaos estão no computador, enfim, qndo nao possu usar o pc, aí pego papel e caneta e escrevo...
De vez em qndo acumula textos e pra digitar tudo que tá guardado, como já disse, non tenhu mto tempo, daí fik complikado.
Eu coloco data em tudo, gosto de registrar. Penso que:

É preciso que fique algo guardado e salvo pra que alguém na frente aprenda com os erros que cometemos no passado.

Axu q esse tbm eh o sentido da matéria História..rs..
Bem, mas chega de lero-lero, vamos ao que interessa...rs
Eu percebo dois mundos: o perfeito (o qual as pessoas non querem de formal alguma que erremos, como se fosse possível formos perfeitos idem a Deus!..vê só..ateh parece que dá...rs), e o dos homens (o mundo em geral – mundo mundano – o qual tem tanta barbaridade!). no meu blog vou tentar fazer poesia, fazer literatura, fazer reflexão, e, por favor, issu aki non eh dever de escola, enton non se surpreenda, se sair alguma gíria ou algo que a concordância verbal aceite, depois eu traduzo (ou enton vc pergunta pra mim...).
Escrevo pq gosto de conversar comigo mexmo, e meu melhor amigo é meu papel. Sou besta!? Bem, issu vai da conceoção de cada um. Na minha, não.
Meu blog está entre esses dois mundos. É uma intersecção dos dois (dois eh um numero perfeito, neah?...): eu falo coisas erradas, sem nexo, bestiais (as vezes...rs), mas também, coisas sucintas, belas, palavras de paz e de amor, além de meu pensamento próprio sobre o q eu axu certu ou errado. Sou a união do bem e do mal, e devo me aceitar assim. Não me tornar passivo, entretanto, entender que somos (non só eu) feitos de lascas de felicidade e de tristeza.
Não me cabe ser mais que luz nas trevas: eu posso aconselhar e encaminhar as pessoas a um bom pensamento, mas tbm preciso que façam isso comigo. Eu posso antecipar o luar, mas não sei se ele vai durar mto tempo e nem se vai ser bonito e sem nuvens escuras durante toda a aparição.
Tudo isso eh o meu silêncio, pq não falo com minha boca, mas com minha mão, meus dedos, minha caneta e o inseparável papel.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

CONTO: O Sonho do Apanhador de Sonhos


Conto: O Sonho do Apanhador de Sonhos

Se houvessem sonhos eu seria incrível. Afinal, meu trabalho é esse: os sonhos são importantíssimos pra mim, são minha renda – minha fonte de recursos. Mas que loucura! Como, eu, que vejo tantos sonhos a todos os momentos posso tratá-los com tanta frieza? Tratá-los como objeto, como apenas um meio de subsistência?
Ah! Mas há detalhes: por isso eu disse “se houvessem sonhos”. Por que disse isso? Apesar de minha ignorância, posso afirmar o que direi porque tenho experiência com sonhos há muito tempo, então, sonhos não são simples desejos ou vontades, como praticamente todo o planeta, em uma quase unanimidade, pensa. Sonhos são realidades paralelas, talvez, porque são nossa imaginação, são o sentimento da alma e do coração – algo tão pessoal, tão puro, tão lindo, que jamais deve se misturar à definição de apenas “desejo”. Desejo é algo que quando temos, usufruímos e, logo, pronto (puft!), acabou toda a magia – não se quer mais, já se quer algo a mais.
Os sonhos poucos têm, porque, justamente, poucos sonham e muitos desejam. Os sonhos não são capitalistas férreos, são construtores de paz e de esperança.
Meu objetivo, como um apanhador de sonhos, não é apanhá-los e guardá-los, simplesmente. Seria fútil fazer só isso. Mas aprender com eles e encaminhá-los para a realização. Porém, como posso aprender com os sonhos se só o que recebo são desejos camuflados de sonhos (e ainda sem fundamento), apenas enganação? Como posso aprender a pureza dos sonhos se descarregam sobre mim somente desejos (e muitos que prejudicam outros)? Como posso? Como?
Meu sonho é aprender a sonhar, é conseguir sonhar. Sonhar o mais belo sonho. Como uma canção de amor, entende? Uma canção. Uma bela, suave, tranqüila e perfumada canção. Com cheiro e gostinho de goiabada. De goiabada? Sim. Esse é o meu sonho: sonhar uma linda canção, que possa se repetir em minha alma sem que eu jamais me canse dela. Que possa se repetir e alcançar outros corações.